quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Segredo da Escuridão - Contos Sombrios 06

Uma Vampira na Janela
por E.H.Mattos
Transcrito por Kane Ryu

O sol naquele dia de fim de verão estava vibrante, mas não parecia queimar como no verão. As pessoas iam e vinham pela rua usando trajes típicos de inverno carioca, geralmente calças e blusas de tecido mais grosso, os quais eram esquecido no verão em um canto do armário. Por causa das manhãs geladas, alguns transeuntes tinham consigo casacos, ou carregavam em seus braços, ou nas costas ou mesmo amarravam na cintura.

Beatrice observava o movimento diurno da rua pela janela de insulfilme, que não só evitava que o sol entrasse no apartamento, sempre sombrio, mas não deixava que as pessoas do lado de fora detectasse a presença da vampira ali, observando-as.

Era fascinada pelas pessoas que dominavam as ruas durante o dia. Figuram que geralmente não se via durante a noite, especialmente onde Kane morava. Sim, lá estava a vampira novamente no apartamento do jornalista e agora também escritor, pois já não bastava visitá-lo durante a noite. Era a terceira vez seguida que Beatrice passava a semana na casa dele e já tinha adquirido o hábito de ficar observando as pessoas por aquela janela. Até pensou que podia incluir tal tipo de cobertura nas janelas de seu apartamento, além das grossas cortinas. Só que, nesse caso, diferente das cortinas, ela teria que levar alguém lá para instalação e isso significava, que esse alguém não sairia vivo de lá. Para a segurança dela e dos outros vampiros que moravam no prédio que habitavam, uma regra simples era seguida. Só "humanos de estimação" podiam entrar e sair vivos. Simples assim, afinal se o humano não tivesse algum envolvimento com algum dos vampiros do prédio, fosse o tipo que fosse, não era seguro para ninguém.

"Humano de estimação", sorriu divertida lembrando que foi o próprio Kane, em um de seus momentos de ciúmes, que usou tal expressão.

A vampira voltou a observar a rua. Achava ainda mais intrigante as pessoas que ali viviam, que as que viviam na área de seu prédio. Talvez fosse a peculiaridade delas, pois o fato era que não se pareceriam em nada, com as que viviam na área que ela morava, mesmo que ambos os bairros fizessem parte do Rio de Janeiro. Enquanto no bairro onde Kane morava, na região de Jacarepaguá, os humanos costumavam acordar muito cedo para trabalhar, saindo de casa muitas vezes antes do sol nascer, e buscavam se recolher o mais cedo que conseguiam, para reiniciar a labuta no dia seguinte. As pessoas da zona sul da cidade, onde vivia Beatrice, pareciam nunca dormir. Nunca dormiam assim como a vampira, que a alguns séculos experimentava o curioso fenômeno em si mesma, pois tirando raras ocasiões, quando algo semelhante a um desmaio ou coma humano ocorria com ela, a vampira realmente nunca dormia.


Um pouco depois da hora que os humanos almoçavam, um grupo de homens deitaram no chão da calçada em frente ao prédio de Kane, a sombra do muro da casa em frente e dormiram ali. Beatrice os observou com um brilho fascinado no olhar, via aqueles homens, usando trajes de alguma firma, dormindo lado a lado e pensou que eram como filhotinhos. Filhotes que dormiam tranquilos e despreocupados, após saciados com uma boa refeição.

Sim, com toda certeza tinham se alimentado. Ela reconhecia aquele comportamento, pois até os vampiros sentiam aquela estranha preguiça quando saciavam sua fome.

A vampira sorriu um tanto malvada, passando a língua por seus caninos pequenos, mas aguçados, furando-a em um deles, para provar o gosto do próprio sangue.

_ Filhotinhos... Que vontade de morder! _ exclamou ela, usando uma frase que humanos antigos costumavam usar, ao se referirem a bebês bonitos e saudáveis, mas que no caso de um vampiro tinha um significado mais literal.

Passos que saíam apressados do elevador e seguiam pelo corredor do andar, no lado de fora do apartamento de Kane, chamaram a atenção da vampira. Um coração acelerado e aquele perfume cítricos inconfundível. Conhecia o som daquele andar, das batidas daquele coração e, principalmente, o cheio dele... Era Kane.

"O que ele fez?", pensou a vampira curiosa, usando sua velocidade vampiresca para ir do quarto de Kane, de onde observava melhor a rua, para a sala.

A vampira parou na entrada do pequeno corredor do apartamento e olhou a porta de entrada se abrir. Beatrice optou por se manter escondida.

Kane entrou afobado. Além do coração acelerado que ela podia ouvir como um batuque de uma escola de samba, ele também estava ofegante. O jornalista tinha o olhar perdido e não parecia ter notado a vampira ali.

Na verdade ele devia ter achado que ela voltaria aquele dia para seu apartamento, Kane saiu antes dela chegar, pois ele havia saído de casa antes do sol nascer. O jornalista tinha um compromisso muito cedo e ficou com receio de perder a hora, por causa do transito caótico da cidade. Por isso, quando a vampira voltou de seu "passeio noturno", encontrou o apartamento dele vazio.

Depois de observá-lo por um momento, percebendo que, seja lá o que aconteceu, era coisa grande, pois Kane estava pensativo e com uma expressão preocupada.

A vampira resolveu entra na sala e questioná-lo. Afinal era só o que podia fazer, já que Beatrice não conseguia ler a mente de Kane.

_ O que você fez agora? _ perguntou a vampira com um tom suave, porém sinistro, que arrepiou todos os pelos do corpo de Kane.

Definitivamente Beatrice adorava torturá-lo... Psicologicamente falando. As expressões de assustado de Kane não tinham preço. A dor da angústia e da incerteza do que ela faria a seguir, sempre o deixavam com carinha de filhotinho que caiu da mudança.

"Filhotinhos", lembrou a vampira dos trabalhadores que dormiam na calçada do lado de fora e a lembrança a fez sorri sem querer; mas por deixar os caninos ligeiramente visíveis, fez Kane estremecer, tenso de preocupação.

Beatrice era fascinada por eles, os homens humanos. Mesmo diante de toda a brutalidade, ainda eram, no fim das contas, filhotinhos. E filhotes, em geral, eram quase sempre adoráveis, pois mesmo que o bicho adulto fosse medonho, suas crias era fofo em sua peculiar existência.

Diante do silêncio de Kane, a vampira cruzou os braços e o encarou série, tentando ocultar o riso interno que fazia seus olhos brilhares de excitação.

Subitamente foi até Kane, usando sua velocidade vampiresca, fazendo-o dar um pulo com o susto. Ele nada disse, nem precisava. Tinha feito algo e era algo que ele temia que a vampira descobrisse.

Beatrice sorri, agora deixando os caninos bem visíveis, propositalmente, e torna a perguntar:

_ O que você fez, Kane?!


Continua no blog Segredo da Escuridão EM BREVE.



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